Junta de Freguesia do Soito Junta de Freguesia do Soito

História

O nome da aldeia do Soito deve-se à existência de grandes soutos (castanheiros). Azinhal Abelho (1), referiu "aquele bosque grande do Souto, cheio de castanheiros floridos, que deixavam cair dos ouriços as castanhas mais dulcificadas do mundo."

Esta árvore era, até há pouco tempo, predominante na paisagem e alguns castanheiros, com enormes troncos, eram mesmo seculares. Hoje, devido sobretudo a doenças, estão a desaparecer e começam a rarear.

O Soito faz parte das terras de Riba Côa, que se estendem a norte até ao rio Douro e a sul até ao rio Côa, teriam sido conquistadas por D. Sancho II aos mouros mas, por motivos desconhecidos, estiveram sob o poder de Leão até ao reinado de D. Dinis. Foi este rei que reconquistou estas terras, as quais entraram definitivamente para o Reino de Portugal pelo Tratado de Alcañices, em 1297. A partir deste tratado, D. Dinis decidiu repovoar estas terras e reforçar a fortificação das praças existentes, sobretudo, na linha de fronteira.

A freguesia do Soito tem sido considerada recente e dela se tem dito e repetido, incorrectamente, que seria no séc. XVIII um simples lugarejo, anexo da freguesia da Nave, só ganhando importância no séc. XIX e XX.

Contribuíram para esta versão da História vários autores. Em 1880, Pinho Leal (2) escreveu: "Não acho esta freguezia no Portugal Sacro nem d'ella me foi possível obter outros esclarecimentos." Em 1708, o Padre António Carvalho da Costa (3) atribui ao Soito 36 fogos, mais tarde referidos por José Osório da Gama e Castro (4) em1902, e Américo Costa (5) em 1948.

Bebendo nestas fontes, Joaquim Manuel Correia (6) refere que o Soito era, no Séc. XVIII, um simples logarejo que fazia parte da freguesia da Nave e contava então com 36 fogos. Mais tarde, em 1978, Manuel Joaquim Barroco (7) refere-se ao Soito nos mesmos termos, e até na Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira (1945, Vol. 30), se diz que "esta freguesia já estava constituída no primeiro tricénio do séc. XVI, não é possível afirmar-se desde quando ao certo, mas sem que deva ser de instituição muito anterior (talvez séc. XV)".

A partir destes autores instituiu-se o erro histórico sem que se tenha feito a necessária investigação histórica e a consulta às várias fontes disponíveis e deu-se como verdadeiro e certo que o Soito era de fundação recente.

Estes números e estas fontes parecem estar erradas uma vez que no Inquérito Paroquial realizado em 1758, o Padre Cura Hipólito Tavares (8) atribui ao Soito 226 fogos e 720 habitantes: Consta esta freguesia de duzentos e vinte e seis vezinhos ; pessoas maiores e menores, setecentos e vinte.

Por outro lado, se o Soito tivesse apenas 36 fogos em 1708, teria diminuído significativamente a sua população em relação aos 160 fogos referidos, em 1527, no Cadastro da População do Reino (9) e, por outro lado, os 36 fogos de 1708, seriam um valor demasiado pequeno, comparado com os 306 fogos do Recenseamento da População de 1864.

Conclui-se, portanto, que o número de fogos referidos pelo P. António Carvalho da Costa em 1708 deve estar errado e, consequentemente, todos os autores que o citaram foram induzidos em erro. De facto, o Soito, que em 1527 era o mais principall lugar do termo (do Sabugal, de Alfaiates e de Vilar Maior) e era de toda a Comarca da Beira das freguesias mais populosas, mantinha igual estatuto no séc. XVIII.

Há ainda outros documentos que reforçam esta tese. No Catálogo de todas as igrejas, comendas e mosteiros que havia nos reinos de Portugal e Algarves, pelos anos de 1320 e 1321, com a lotação de cada uma delas. Ano de 1746 (10), a igreja de Santa Maria do Souto, com as suas ermitanas, foi taxada em dez libras, valor superior a muitas outras igrejas do termo do Sabugal e de Alfaiates. No entanto, quem consultou – sobre este documento - José Osório da Gama e Castro (11) poderá ter sido induzido em erro, uma vez que este autor refere a igreja de Santa Maria sem mencionar o Souto. Poderão, por isso, alguns estudiosos ter acreditado que o Soito ainda não existia nessa altura, uma vez que não era referenciado. Tal não aconteceu porém com J. Pinharanda Gomes (12) e com o Pe. Francisco Vaz (13).

Assim, o Soito parece ser muito anterior ao séc. XIV. No entanto, em relação às freguesias vizinhas, que apresentam marcos pré-históricos e vestígios da passagem de outros povos, denota ser uma freguesia nova. É necessário, no entanto, fazer mais estudos e continuar a investigação a fim de verificar a existência, ou não, de vestígios pré-históricos. Por exemplo, esta freguesia consta no mapa da distribuição dos machados planos unifaciais de uma argola (segundo Coffy, acrescentado), de Carlos Fabião (14).

Em todo o caso, e já mesmo depois da fundação da nacionalidade, o Soito não tinha a importância geo-estratégica de outras freguesias, pelo que não se encontram vestígios de ocupação político-militar.

O Soito não teve importância na consolidação da independência e defesa nacional, pelo que sobre ele não abundam documentos desse período. Terá, possivelmente, por essa razão, nascido e crescido espontaneamente e ter-se-á mesmo desenvolvido pela ausência de confrontos fronteiriços, tornando-se um pólo de acolhimento de populações vizinhas, cansadas de guerras e escaramuças. Acresce a esta paz o facto de o Soito, ao contrário das freguesias vizinhas, ser uma terra muito fértil. Enquanto a fixação das populações se devia sobretudo a factores de ordem político-militar, o Soito não se pôde afirmar. Teve que esperar que fossem as condições naturais a ditar as razões de fixação humana para crescer e se desenvolver até se tornar, em 1527, o mais principall lugar do termo.

O inicial despovoamento do Soito seria partilhado pelas freguesias da região. Segundo Pinho Leal (15) "como quase todas as nossas povoações da raia, Sabugal foi couto do reino". O couto de homiziados do Sabugal apareceu antes de 1369 e teria sido o segundo a ser fundado em Portugal. Em 1440, foi fundado o couto de Vilar Maior com cem homiziados e em 1514 foi fundado o couto de Alfaiates, com trinta homiziados. Estes coutos junto da fronteira tinham um papel importante na fixação, povoamento e defesa do território. Eram coutos do reino "instituídos pela coroa com o propósito de aumentar o povoamento e garantir a defesa do território à custa dos homiziados, que em contrapartida logravam alcançar o perdão" (16).

Em resumo, parece indiscutível que o Soito já existia em 1320 e, devido às dez libras que pagava, é de formação muito anterior; em 1527 tinha 160 moradores, sendo o mais principal lugar do termo; pelo menos desde o início do Séc. XVI foi, em termos demográficos, das mais importantes povoações da região. Felizmente o Padre Cura Hipólito Tavares deixou-nos o seu testemunho, que nos parece mais coerente que o do Padre António Carvalho da Costa. Este não nos refere a sua fonte e, por isso, não se pode comprovar. Se observarmos a evolução da população de todas as freguesias do concelho desde 1864 até à actualidade, facilmente verificamos o lugar de destaque que o Soito tem, comparativamente às restantes freguesias. E não é credível que tal importância resulte de um crescimento rápido, apenas a partir do séc. XVIII.

Norberto Manso.

(*) – No essencial, este texto que resulta da minha tese de mestrado, foi publicado no jornal “O Soito”, em Outubro de 1998, e em 2002 e 2007, no livro/revista das Festas de S. Cristóvão do Soito.

 

Referências Bibliográficas:

(1) – Azinhal Abelho, 1964, Nuno de Montemor - Lição de Continuidade, in Nuno de Montemor (Testemunhos dos seus contemporâneos), Lisboa, Colecção Antológica Best-Selers. (pág. 65)

(2) - Augusto Soares de Azevedo Barbosa de Pinho Leal, 1880, Portugal Antigo e Moderno – Diccionário…, Lisboa, Livraria Editora de Matos Moreira & Companhia. (Vol. IX, pág. 446).

(3) - Pe. António Carvalho da Costa, 1708, Corografia Portugueza, e Descripçam Topográfica do Famoso Reyno de Portugal, 1ª edição, Lisboa, (Vol. II, pág. 401)

(4) – José Osório da Gama e Castro, 1902, Diocese e Districto da Guarda, Porto. (pág. 276/376).

(5) - Américo Costa, 1948, Diccionário Corográfico de Portugal Continental e Insular, Porto, Livraria Civilização. (Vol. XI, pág. 510).

(6) - Joaquim Manuel Correia, 1946, Memórias sobre o Concelho do Sabugal, (a 1ª versão da obra data de 1893), Edição Fac-similada da Câmara Municipal do Sabugal. (pág. 260).

(7) - Manuel Joaquim Barroco, 1978, Panoramas do Distrito da Guarda, edição do autor. (pág. 198-199).

(8) – Padre Cura Hipólito Tavares, 1758, Dicionário Geográfico - Memória Paroquial, Vol. 35, fls.1601 - 1604, ANTT.

(9) - João Tello de Magalhães Collaço, 1931, Cadastro da População do Reino (1527), Lisboa. (pág. 106).

(10) – Fortunato de Almeida, 1930, História da Igreja em Portugal, (Vol. IV, pág. 90-143).

(11) - José Osório da Gama e Castro, 1902, Diocese e Districto da Guarda, Porto. (pág. 511).

(12) – Jesué Pinharanda Gomes, 1981, História da Diocese da Guarda, Braga, Editora Pax. (pág. 81).

(13) - Padre Francisco Vaz, 1990, Evangelho Aberto, edição do autor, Lisboa, Colégio Universitário Pio XII. (pág. 24).

(14) – Carlos Fabião, 1993, O Bronze Final, in História de Portugal, Direcção de José Mattoso, Volume I, Editorial Estampa. (pág. 81).

(15) - Augusto Soares de Azevedo Barbosa de Pinho Leal, 1878, Portugal Antigo e Moderno – Diccionário…, Lisboa, Livraria Editora de Matos Moreira & Companhia. (Vol. VIII, pág. 291).

(16) - Humberto Baquero Moreno, 1986, Os Municípios Portugueses nos Séculos XIII a XVI, Editorial Presença, Lisboa. (pág. 93).

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